As constelações sistêmicas são uma excelente metodologia para aprofundar
o entendimento de questões complexas em empresas familiares. Em uma empresa
familiar, o sistema da família e o da organização estão sempre presentes e a
interdependência entre eles gera dinâmicas que nem sempre são evidentes para
aqueles que fazem parte ou que interagem com a empresa. As constelações podem esclarecer situações e identificar
soluções que ajudam os acionistas e os principais executivos na definição dos
melhores caminhos para a evolução da organização.
A constelação
sistêmica é uma dinâmica que foi desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger, a
partir da sua observação de sistemas familiares, e tem como objetivo buscar
soluções para todo tipo de questão. Hellinger constatou que podem existir
dinâmicas ocultas que influenciam os membros do sistema, a relação entre eles e
o próprio sistema. A constelação traz a luz essas dinâmicas, até então ocultas,
nos permitindo perceber o que não está visível, revelando insights e
favorecendo a solução da questão.
É importante ressaltar
que o sistema da família sempre vem antes que o da empresa. As pessoas são
filhos, irmãos, primos e membros da família antes de serem parte da
organização, independente de estarem em posições executivas, no conselho ou atuando
como acionistas. O contexto familiar e o histórico de relacionamento entre os
diversos membros e ramos da família impactam as relações, dinâmicas e os
processos de tomada de decisão na empresa. Evidentemente, estas dinâmicas podem
ser mais ou menos intensas dependendo do histórico da família, da presença de
membros da família na gestão da empresa, e do nível de profissionalização da
organização.
As empresas
familiares se diferenciam de outros tipos de organização devido a algumas características
particulares. Muitas empresas são especialmente focadas na sua sustentabilidade
de longo prazo porque as vezes a sobrevivência da organização como legado da
família é mais importante do que o resultado financeiro de curto prazo. A
hierarquia e a governança que está descrita formalmente pode ser bem diferente
de como as decisões realmente são tomadas e o que efetivamente acontece. A
sucessão de um líder familiar é um tema delicado e muitas vezes envolve
elementos que vão além do que seria esperado em outro tipo de empresa. A
exclusão de um membro da família da organização, voluntária ou involuntária, as
vezes traz à tona questões desafiadoras que impactam o sentimento de pertencer
tanto na família como na empresa.
Um bom exemplo da
aplicação das constelações sistêmicas aconteceu em uma empresa familiar na
indústria de tecnologia que estava vivenciando um momento delicado de sucessão
e de decisão sobre o futuro da organização. O fundador faleceu e, como era
esperado, o primeiro filho assumiu o seu lugar como líder da empresa. Após
alguns anos, o primeiro filho queria seguir um outro caminho na sua carreira e a
família não sabia o que fazer. Eles consideravam algumas possibilidades: o
segundo filho assumir a empresa, contratar um executivo do mercado, se afastar da
gestão para o conselho e permitir que os outros sócios minoritários assumissem
a gestão, ou vender a empresa para os outros sócios ou para um comprador
externo.
Como o segundo
filho tinha interesse em assumir a posição e a família tinha dúvidas se ele era
a pessoa certa e, além disso, não sabiam como os outros sócios reagiriam,
decidimos iniciar a constelação testando esta possibilidade. Neste caso,
representamos na constelação a empresa, os dois filhos, os outros sócios,
colaboradores e os clientes. No início da constelação ficou claro que os
colaboradores e os clientes estavam sendo impactadas por esta situação da
família.
Com a autorização prévia do
cliente, aprofundamos a constelação no âmbito familiar. Como próximo passo, incluímos
o representante do pai, fundador da empresa, que revelou que existiam
emaranhados familiares que poderiam ser solucionados para liberar a evolução da
empresa. Quando o primeiro filho honrou e agradeceu a contribuição do pai, ele
se sentiu livre para seguir a sua escolha de caminho profissional e, ao mesmo
tempo, reconheceu que continuaria a fazer parte da família mesmo após sair da empresa.
Em seguida, o segundo filho percebeu que com a saída do irmão agora existiria
um espaço disponível para ele ocupar o seu lugar na empresa sem gerar conflitos
na família.
Após liberar o emaranhando
familiar, a constelação voltou a focar na empresa e nas dinâmicas entre os
outros elementos do sistema. Os representantes que antes estavam incomodados,
ficaram aliviados e se sentiram mais fortes para focar no sucesso da empresa. No
final da constelação ficou claro que a substituição dos filhos na liderança
seria bem-vinda por todos, inclusive pelos outros acionistas minoritários.
Nós ficamos muito satisfeitos
quando, meses depois, soubemos que as mudanças aconteceram na empresa conforme
indicadas na constelação e todos os envolvidos estavam felizes. O primeiro
filho abriu um novo negócio, o segundo filho tinha sucesso na sua nova posição,
os outros sócios aceitaram a mudança e tantos os colaboradores, como os
clientes, estavam satisfeitos com a nova gestão.
Um outro exemplo que
nos mostra como as constelações sistêmicas são uma metodologia poderosa é a sua
utilização pelo Judiciário na mediação e solução de conflitos no âmbito do
Direito de Família, como foi divulgado recentemente em uma longa matéria da TV
Globo no programa do Fantástico. Esta prática inovadora também demonstrou uma
eficácia surpreendente neste outro contexto, aumentando significativamente o
índice de acordos entre as partes em conflitos familiares.
Escrito por: